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A loucura do Evangelho e as loucuras dos evangélicos

Por Augustus Nicodemus Lopes em O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja 

O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios que a palavra da cruz é loucura para a mente carnal e natural, para aqueles que estão perecendo (1Co 1:18,21,23; 2:14; 3:19).

Ele mesmo foi chamado de louco por Festo quando lhe anunciava a palavra da cruz (At 26:24).

Pouco antes, ao passar por Atenas, havia sido motivo de escárnio dos filósofos epicureus e estoicos por lhes anunciar a cruz e a ressurreição (At 17:18-32). 

O evangelho sempre parecerá loucura para o homem não regenerado. Todavia, não há do que nos envergonharmos se formos considerados loucos por anunciar a cruz e a ressurreição.

Como Pedro escreveu, se formos sofrer, que seja por sermos cristãos, e não como assassinos, ladrões, malfeitores ou como quem se intromete em negócios de outros (1Pe 4:15-16). 

Nessa mesma linha, a certa altura da carta que escreveu aos coríntios, o apóstolo Paulo pede que eles evitem parecer loucos: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?” (1Co 14:23).

Ou seja, o apóstolo não queria que os cristãos dessem ao mundo motivos para que nos chamassem de loucos, a não ser pela pregação da cruz. 

Infelizmente, os evangélicos — ou uma parte deles — não deram ouvidos às palavras de Paulo, de que é válido tentarmos não parecer mais loucos do que já nos consideram.

Existe no meio evangélico tanta insensatez, falta de sabedoria, superstição, coisas ridículas que acabamos dando aos inimigos de Cristo um chicote para nos baterem.

Somos ridicularizados, desprezados, nos tornamos motivo de escárnio, não porque pregamos Cristo crucificado, mas pelas sandices, tolices e bobagens, todas feitas em nome de Jesus Cristo. 

O que vocês acham que o mundo pensa de um pregador que diz ter tido uma visão na qual galinhas falam em línguas e um galo interpreta falando em nome de Deus, trazendo-lhe uma revelação profética?!

Podemos dizer que o constrangimento que isso provoca é resultado da pregação da cruz? Ou, ainda, o “pastor pião”, que, depois de falar em línguas e profetizar, rodopia como resultado da unção de Deus?!

Ou, ainda, a “unção do leão”, supostamente recebida da parte de Deus durante um show gospel, que faz a pessoa andar de quatro no palco como um animal selvagem?! 

Eu sei que vão argumentar que Deus falou através da jumenta de Balaão e que pode falar através de galináceos ungidos.

Mas a diferença é que a jumenta falou mesmo. Ninguém teve uma visão em que ela falava. E deve ter falado na língua de Balaão, e não em línguas estranhas.

Naquela época, faltavam profetas — Deus só tinha uma jumenta para repreender o mercenário Balaão.

Eu não teria problemas se um galinheiro inteiro falasse português na falta de homens e mulheres de Deus nesta nação, mas não me parece que é o caso. Sei que Deus mandou profetas andarem nus, profetizar e fazer coisas estranhas como esconder cintos de couro para apodrecerem.

E ainda mandou outros comerem mel silvestre e gafanhotos e se vestir de peles de animais.

Tudo isso fazia sentido naquela época, quando a revelação escrita, a Bíblia, não estava pronta, e os profetas eram os instrumentos de Deus para sua revelação especial e infalível.

Não vejo nenhuma semelhança entre o pastor pião e a pastora leoa e o profeta Isaías, que andou nu e descalço por três anos como símbolo do que Deus haveria de fazer ao Egito e à Etiópia (Is 20:2-4). 

Eu sei que o mundo sempre vai zombar dos crentes, mas que esta zombaria, como queria Paulo, seja o resultado da pregação da cruz, da proclamação das verdades do evangelho, e não o fruto de nossa insensatez.

Eu não me envergonho da loucura do evangelho, mas das loucuras de alguns que se chamam evangélicos.

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