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“Precisamos falar sobre pecado”, entrevista com Rivanildo Guedes

Saiba mais sobre o recente lançamento da MC

Em março, a Mundo Cristão lançou o livro Precisamos falar sobre pecado, escrito por Rivanildo Guedes. Na obra, o pastor, escritor, coach, cientista da religião e professor transita com maestria entre a filosofia, a literatura e a teologia, compartilhando conceitos universais que explicam a longa busca do ser humano por sentido e pertencimento.

Com o intuito de conduzir o leitor a uma rica reflexão sobre a força vital que pode nos impulsionar tanto para a vida quanto para a morte, ele recorre aos autores sagrados e clássicos para compreender a dinâmica do pecado e a proposta redentora do Criador, que deseja ter comunhão com o ser humano e dar-lhe vida abundante.

Para conhecer ainda mais a novidade, conversamos com Rivanildo Guedes. Em entrevista, o autor compartilha curiosidades sobre o livro, fala sobre as bases teóricas e teológicas que usou para compor a obra, elucida a importância de conhecermos a luta entre o bem e o mal que acontece no interior do ser humano e dá orientação a quem se vê preso e precisa de forças para vencer o pecado. Conteúdo edificante que você não pode perder! Confira!

Mundo Cristão: Por que é importante que falemos sobre pecado?

Rivanildo Guedes: Eu acredito que o pecado seja a melhor chave para compreendermos o comportamento do ser humano. A visão bíblico-teológica acerca do comportamento humano precisa ser resgatada. Com o advento da visão psicanalítica de mundo (que não é ruim em si), a imaginação religiosa — notadamente cristã — perdeu a sua força.

Com isso, não se sabe mais o que seja o ser humano. Theodore Dalrymple, escritor inglês, conservador e ateu, diz que uma das razões para a decadência da sociedade britânica é a perda dos valores que construíram tal cultura. Assim, resgatar para o centro do debate a antropologia teológica, em especial por meio das lentes de Santo Agostinho, uma das referências que usei ao compor a obra, nos dará a possibilidade de entender de onde virá a redenção do ser humano.

Soren Kierkegaard, outro dos diversos autores pesquisados, foi talvez o principal pensador cristão a analisar as consequências do pecado no interior da alma. Por meio do seu livro clássico “O Desespero Humano” é possível perceber que, para o escritor dinamarquês, o pecado gerou, fundamentalmente, um profundo sentimento de angústia.

As tentativas contemporâneas de fugir e/ou resolver tal angústia terminam por gerar algo pior: o desespero. Assim, o ser humano busca resolvê-lo de duas formas: I) ao se perceber desesperado, fugir e projetar o seu ser para outra pessoa; ou II) mesmo se percebendo desesperado, permanecer em si mesmo sem se abrir para o auxílio de Jesus Cristo.

Outra causa brutal do pecado na alma humana e, agora, trazendo o pensador René Girard para o diálogo, foi a inveja. Ao se perceber como tendo falta de algo, o ser humano olha para o seu próximo supondo que este seja mais feliz. Para conseguir o que o outro tem, o “invejoso” fará o que for necessário. Nos dois casos, o Novo Testamento nos recomenda o contentamento como chave para a vida feliz.

É importante perceber que a felicidade, de acordo com a Bíblia Sagrada, está intimamente ligada à maneira pela qual eu olho para o que Deus faz em mim. É a percepção do valor pessoal, diante de Deus, o que fará toda a diferença.

Qual foi o seu objetivo ao escrever o livro?

Além de tentar compreender o comportamento do homem contemporâneo por meio do pecado, mostrar que este se alojou no desejo humano. Assim, tendo essa reflexão em mente, convido o leitor a refletir sobre a urgência de não permitirmos que os nossos pecados se amontoem dentro de nós a ponto de construir uma muralha que nos separe de Deus, o nosso Redentor.

Quais foram as bases bíblicas e teóricas que você utilizou durante a pesquisa e elaboração da obra?

Busquei fontes na literatura, na filosofia e na teologia, entre elas: a história da queda de Adão e Eva; o salmo 51, a partir da experiência de Davi, e os livros de Tiago e IJoão. Pesquisei a tradição cristã, de uma forma geral e, em especial, por meio das obras de Santo Agostinho e Soren Kierkegaard.

Também dialoguei com Sigmund Freud e com aquele que considero o maior pensador deste século: René Girard, com sua revolucionária Teoria Mimética, que conseguiu ir fundo nas razões que fazem com que ser humano deflagre a violência real ou simbólica. Em minha opinião, o que mais surpreende em Girard foi a sua maneira de declarar a fé em Cristo, seja por meio de escritos ou palestras.

Na obra, você distingue pecado como “desejo corrompido” e como “loucura: a insanidade de confiar na criação em vez de descansar a alma no Criador”. Como tal desejo é concebido?

O desejo que temos é uma dádiva do Pai, o nosso Criador. Tal desejo, porém, foi corrompido por uma escolha deliberada de Adão e Eva de se entregarem ao orgulho e à inveja, os piores vícios da alma. Ao se corromper, por causa do pecado, o desejo se desloca do seu centro, o Criador, e se volta para a criatura.

O início do processo do desejo corrompido se dá na tentação, ainda que esta não seja em si pecado. Tiago nos adverte que todo o pecado começa com um impulso que vem de fora e se une ao que já está dentro de nós mesmos. É importante ressaltar também que, de acordo com Girard que se inspirou no Novo Testamento, nós desejamos a partir do desejo de outra pessoa.

Como lidar com a dinâmica entre o bem e o mal que acontece no íntimo de cada ser humano? Como sair vitorioso dessa batalha? 

Essa questão é bastante complexa. A luta entre o bem e o mal que travamos dentro de nós mesmos só irá se encerrar quando morrermos ou quando Jesus Cristo voltar. Sigmund Freud diz que só paramos de desejar quando morremos. E, uma vez que o pecado se alojou no desejo, tal luta se torna mais intensa e constante do que gostaríamos.

Acredito, contudo, que é possível gerenciarmos o nosso desejo. Ao direcionarmos o nosso desejo para o Senhor Jesus em oração, quebrantamento, confissão de pecados, comunhão com os irmãos e jejum, se faz possível identificar qual tipo de desejo está brotando do nosso coração ao longo do dia. Tal exercício é muito difícil, mas é possível.

Em nossos dias, vemos a crescente relativização de valores morais que fomentam o desejo corrompido e a decadência da sociedade por meio da propagação de padrões de comportamento e consumo nocivos, geralmente pautados pela ganância, luxúria, inveja e corrupção. Nessa ambiência, de que maneira podemos avaliar as mensagens que nos são transmitidas e escolher um caminho certo, que resultará em plenitude e paz para nós e para as pessoas ao nosso redor?

Acredito que não tenha outro caminho que não seja o da experiência profunda com o Senhor. A tradição cristã nos mostra de maneira bela a forma como os nossos irmãos e irmãs conseguiram vencer este mundo: a vida mística. Com vida mística eu quero dizer o caminhar constante com o Senhor ao ponto de vivenciá-lo na carne.

Ultimamente, eu tenho pensado muito nas palavras de Jesus no Sermão do Monte: “Os bem-aventurados verão a Deus”. Precisamos nos apropriar de fato da nova vida que Paulo, apóstolo, nos diz que temos ao nos unir a Cristo. A igreja brasileira, grosso modo, ainda enfatiza mais o conhecimento doutrinário, que é muito importante, em detrimento da experiência renovada com o Ressuscitado.

Abraham Heschel, um importante rabino, já disse que precisamos sempre erguer os olhos para vermos que Deus está aí, a todo o instante, e que só conseguiremos perceber a presença manifesta de Deus se formos íntimos dele.

De que maneira erram aqueles que, em nome de um suposto progresso, relativizam padrões que se mostraram decisivos para a construção e a manutenção da sociedade até os dias de hoje? Qual deve ser a postura do cristão inserido nesse contexto?

Tais pessoas erram por não perceberem a riqueza da tradição que está no passado. Os Pais da Igreja, a Idade Média; a Reforma Protestante… cada um desses períodos tem muito o que nos ensinar. Quando tais pessoas buscam o “progresso”, elas o fazem sem parâmetros teóricos firmes, pois buscam criar teorias sequer testadas e aprovadas pela história.

Descartar os valores cristãos, por exemplo, é desprezar todo o fundamento sobre o qual o mundo ocidental foi construído. Só existirá um “progresso” verdadeiro quando formos humildes ao ponto de reconhecermos que o passado não deve ser esquecido.

De que forma o desejo corrompido pode ser redimido e transformado em amor divino?

Por meio do olhar para o sacrifício definitivo de Jesus CristoQuando reconhecemos que os nossos desejos mais íntimos só serão satisfeitos por meio de Jesus Cristo é que encontraremos descanso para a nossa alma.

Qual a importância do louvor, do perdão e da gratidão na luta contra o pecado e na edificação da comunhão com Deus?

Todos eles são importantes em função de direcionarem o nosso coração para o Criador e Redentor de nossas almas. Tal experiência proporciona o encontro com a paz e a alegria. A inveja, fruto do desejo corrompido, rouba tais virtudes da alma. Sem a paz e a alegria verdadeiras, começamos uma busca frenética por elas e até “matamos” se for preciso para poder encontrá-las. 

O que você diria a uma pessoa que se vê presa em determinado pecado e que precisa de forças para lutar contra o desejo corrompido?

Eu diria para ela assumir que tem um problema e que precisa de ajuda. Eu também diria para ela buscar uma comunidade (igreja) em que Jesus Cristo seja, de fato, o centro. Não conseguiremos vencer os nossos desejos corrompidos sozinhos. A ajuda de pessoas de confiança e mais experientes do que nós é fundamental.

O que os leitores podem esperar da obra?

Uma rica reflexão acerca da dinâmica do pecado dentro de nossa alma. Temos o costume de pensar no pecado apenas como falha moral. Ele é isso também. Porém, observamos o pecado simplesmente em sua atuação externa, por meio dos atos e decisões.

Precisamos sair da superfície do ser e ir mais fundo na alma humana. É a partir de lá que conseguiremos perceber o caminho que o pecado faz para se concretizar.Leia também:Arrependimento não é remorsoConheça:Seus pecados estão perdoadosTeologia da trincheiraConfissões

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