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Fé e intelectualidade

Veja a primeira parte de nossa entrevista com Pedro Dulci, autor de “Inteligência pra quê?”

Em abril, a Mundo Cristão lançou Inteligência pra quê? Como usar seu cérebro para a glória de Deus, novo livro de Pedro Dulci. Na obra, o jovem escritor, teólogo, filósofo e pastor elucida a importância do desenvolvimento intelectual como parte da vocação cristã.

Considerando as realidades e urgências de nosso tempo, Pedro incentiva os leitores a pensar e agir estrategicamente, cientes de que o desapreço pelo debate intelectual apenas incrementa por parte dos não cristãos o domínio do espaço do pensamento criativo, diminuindo ainda mais a influência cristã nos rumos da sociedade.

Com uma redação informal e cativante, e trazendo insights de pensadores diversos, o livro vai muito além de uma discussão metodológica, a grata surpresa é que Inteligência pra quê? é um livro de devoção.

Seu assunto não é, precisamente, “como pensar”, mas como pensar na presença de Deus. Para ler a resenha completa do lançamento, clique aqui.

Para compartilhar com você, leitor MC, mais curiosidades sobre a publicação, entrevistamos Pedro Dulci.

No bate-papo, divido em duas partes, ele faz um mergulho profundo nos temas abordados em seu novo livro, faz um alerta sobre os perigos do anti-intelectualismo entre os cristãos e fala sobre a importância de a igreja brasileira investir na formação intelectual de seus membros. Um conteúdo imperdível! Acompanhe, a seguir, a primeira parte da entrevista.

Mundo Cristão: Quais benefícios podem ser obtidos a partir do desenvolvimento da atividade intelectual que glorifica a Deus? De que forma tal prática reverbera positivamente em âmbito pessoal e na esfera social? 

Existe uma postura consolidada no senso comum que precisa mudar. Por mais que possamos saber que Jesus veio tirar nosso pecado, não nossa inteligência, ainda assim, não sabemos “como” viver de uma forma intelectualmente responsável e radicalmente fiel ao Senhor.

Ainda é muito forte no imaginário brasileiro que fé não se relaciona com razão. Religião e inteligência não estão conectadas para as pessoas.

Quantos de nós sabemos conduzir nossos empreendimentos econômicos respeitando a vontade de Deus na bolsa de valores?

Quem organiza um horário de estudos que glorifica a Deus?

Qual profissional fecha um relatório segundo os parâmetros divinos de trabalho?

Simplesmente algumas dessas perguntas nem fazem sentindo para as pessoas — existe um parâmetro divino para o trabalho de um escrivão?

Mesmo os cristãos repetem sem pensar a frase “religião e política não se misturam” ou que “as questões de religião são de foro íntimo, e não devem atrapalhar a administração pública”.

Ou seja, vivemos partidos: o que experimentamos de segunda a sábado não está conectado com o que aprendemos no domingo.

Cantamos e ouvimos sermões na igreja, mas continuamos estudando, trabalhando e vivendo como qualquer outra pessoa que não tem relacionamento com Cristo.

Sem a capacidade de desenvolvermos uma vida intelectual que glorifica a Deus, permaneceremos indefinidamente transitando entre o dia a dia vivido segundo as ideias não cristãs e a experiência do domingo mais parecida com um salto de fé no escuro.

Por que a reflexão proposta por “Inteligência pra quê?” é importante, especialmente no contexto da igreja cristã evangélica brasileira? 

Quando observamos a história recente da igreja na Europa e nos Estados Unidos, guardadas as devidas proporções, o processo de transformação e secularização da sociedade europeia e norteamericana é muito próximo do momento em que estamos vivendo.

Repetir os erros do passado será fatal para a igreja brasileira como foi para nossos irmãos do norte e do continente europeu. E, quando falamos sobre a resistência da igreja à dominação do espírito do tempo, um assunto fundamental é a maneira como discipulamos a inteligência que Deus nos deu.

Não só a formação teológica de nossos líderes, mas a política, a ciência, a arte e todos os outros campos de expressão cultural dependem da maneira como conduzimos nossas ideias e as mantemos em submissão à obra de Cristo.

A vitalidade da igreja brasileira nas próximas décadas depende, incontornavelmente, da sua capacidade de ensinar aos seus membros a pensar segundo os parâmetros divinos.

E não se engane, isso não é um trabalho reservado aos intelectuais da igreja, como se fosse uma questão meramente teórica. O que está no centro dessa discussão é discipulado.

A quem nosso coração é entregue?

 Na visão bíblica do ser humano, o coração é o centro da nossa cognição (inteligência em seu aspecto mais simples), mas também de nossa volição e de nossa emoção.

A igreja evangélica brasileira precisa ser alfabetizada cognitivo, volitivo e emocionalmente. Isso significa deixar toda nossa criatividade e inteligência serem conduzidas pelas leis do Espírito que operam no coração dos discípulos de Jesus.

Sem isso, vamos permanecer repetindo padrões culturais secularizados, importaremos para dentro da igreja formas de pensar, sentir e querer que são estranhas ao evangelho e, inevitavelmente, seremos engolidos pelo espírito de nosso tempo.

Levantar a pergunta “Inteligência para que?” é uma questão de vida ou morte para a igreja na história do Brasil. 

De que forma o livro foi concebido? Quais são as principais bases intelectuais e temas que o leitor encontrará ao longo da obra? 

De certa forma, o livro responde a uma crise pessoal que, posteriomente, descobri que era um dilema recorrente na história da igreja.

Eu não fui o primeiro discípulo de Jesus que precisou lidar com o fato de que era incompatível cantar a soberania de Cristo sobre céus e terra, mas pensar segundo as categorias de filósofos, cientistas e até teólogos sem compromisso com a Palavra de Deus.

Esse drama não era só meu. Desde Justino, o mártir  no segundo século, os cristãos precisam lidar com a questão sobre a relação entre fé e cultura. Sendo assim, o livro foi concebido para apresentar ao maior número de pessoas as ferramentas que foram fundamentais para eu chegar ao modelo mais fiel ao ensino bíblico sobre como conduzir nossa inteligência para a glória de Deus.

Busquei apresentar didaticamente as principais bases intelectuais que todo discípulo de Jesus precisa conhecer contemporaneamente para manter seu testemunho na esfera pública relevante e fiel.

Para isso, eu não facilitei para os leitores. Tem muita filosofia, ciência e teologia ao longo da leitura. Tudo foi disposto didaticamente e em um ritmo de leitura muito gostoso, mas é um trabalho de cavar fundo!

Não é possível superar a superficialidade que marca o testemunho público da igreja evangélica sem um trabalho profundo de reflexão que oriente nossa prática nas mais diversas tarefas culturais.

Na verdade, seria uma contradição paradoxal apresentar uma resposta simples para nos tirar do simplismo intelectual que marca nosso período histórico.

Por isso, o leitor encontrará juristas, engenheiros, professores universitários, filósofos artistas e muitos pastores-teólogos sendo citados na obra como exemplos de pessoas que precisaram lidar com o desafio de responder aos conclames da cultura de sua época.

Não tenho dúvidas de que reuni a melhor tradição intelectual que a Igreja de Jesus produziu ao longo da história. •

Saiba mais!

Em breve, publicaremos a segunda parte da entrevista especial com Pedro Dulci! Fique de olho aqui no site MC e em nossas redes sociais!

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