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Quem foi Albert Einstein?

Alister McGrath, professor na Universidade de Oxford, apresenta o perfil do gênio favorito do mundo e dá detalhes do livro Uma teoria de tudo (que importa), em que examina a vida e o legado de Einstein e suas concepções sobre ciência, religião e o significado da vida.

Apresentando Einstein 


Por Alister McGrath em Uma teoria de tudo (que importa): Uma breve introdução a Einstein e suas ideias surpreendentes sobre Deus

Einstein nasceu de pais judeus não praticantes em Ulm, no reino de Württemberg, em 14 de março de 1879. Württemberg havia recentemente se integrado à Alemanha unificada após a Guerra Franco-Prussiana em 1871. No verão após seu nascimento, a família se mudou para Munique, a capital da Baviera, onde Einstein iniciou os estudos no Ginásio Luitpold.

Mais tarde, depois do fracasso de sua empresa de equipamentos elétricos, os pais de Einstein se mudaram para o norte da Itália, enquanto ele continuava a estudar em Munique.

O objetivo de Einstein era se estabelecer na Suíça e estudar para ser professor de física e matemática na Escola Politécnica Federal Suíça (agora conhecida como Instituto Federal de Tecnologia da Suíça), em Zurique. Suas notas não eram excepcionais, e estava claro para ele que as probabilidades de obter um cargo acadêmico na Suíça eram escassas. 

Entre maio de 1901 e janeiro de 1902, lecionou em liceus em Winterthur e Schaffhausen antes de se mudar para Berna, onde deu aulas particulares de matemática e física para sobreviver. Os motivos dessa mudança não são claros, embora alguns sugiram que refletia o desejo de Einstein de evitar o serviço militar obrigatório. 

Einstein não possuía cidadania, tendo renunciado à cidadania alemã em janeiro de 1896, mas adquiriu a cidadania suíça em 1901. Em 1902, encontrou um trabalho relativamente bem remunerado como assistente técnico no escritório suíço de patentes. Em janeiro de 1903, casou-se com a matemática sérvia Mileva Marić, que fora sua colega durante o tempo de estudos na Politécnica de Zurique. O casal teve dois filhos: Hans Albert, nascido em 1904, e Eduard, nascido em 1910.

No outono de 1900, enquanto esperava pelo resultado do pedido de cidadania suíça, Einstein usou o tempo livre para atualizar as leituras científicas. Foi especialmente influenciado pelo físico alemão Ludwig Boltzmann, que explicou as propriedades observadas dos gases como “partículas discretas de tamanho definido que se movem de acordo com certas condições”. 

Essa “teoria cinética dos gases” desenvolvida por Boltzmann ressaltava que os átomos não eram algum tipo de construção teórica hipotética, mas sim objetos reais. Isso ia contra a visão dominante naquela época, que havia sido expressa rigorosamente nos textos de Ernst Mach. 

Einstein depois criticou Mach e seus seguidores por permitir que as ideias científicas fossem determinadas por pressuposições filosóficas desconhecidas, argumentando que os preconceitos deles contra a teoria atômica se deviam a “suas visões filosóficas positivistas”.

As ideias de Boltzmann estimularam Einstein a escrever seu primeiro artigo científico, publicado em 1901, sobre as implicações do conhecido “efeito da capilaridade”, isto é, a capacidade de um líquido de fluir em espaços confinados sem o auxílio da gravidade, ou até em oposição à gravidade. Um exemplo familiar disso é o fenômeno da “umidade ascendente”, em que a água se desloca para cima no concreto ou em pedras, ou a seiva ascendente nas árvores. 

Mas por que isso acontece? Lamentavelmente, o artigo de Einstein — que não era especialmente bem escrito ou fundamentado — não fornecia respostas convincentes a essa questão. A proposta de Einstein de uma correlação entre o peso atômico de um líquido e a extensão de sua ação capilar não é mais levada a sério. Todavia, apesar das deficiências desse primeiro artigo científico, Einstein agora tinha a sólida vantagem de já ter um artigo publicado com seu nome, o que lhe possibilitava apresentar esse artigo a instituições acadêmicas na esperança de encontrar um cargo acadêmico adequado.

Em anos recentes, esse primeiro artigo passou a receber mais atenção, devido a uma suspeita de que Einstein pudesse ter recebido algum auxílio não reconhecido de Mileva Marić. Na época em que Einstein estava pesquisando e escrevendo esse artigo de 1901, o casal estava vivendo junto, embora desde meados de 1900 até dezembro de 1902 eles vivessem geralmente em cidades diferentes e às vezes até mesmo em países diferentes.

O próprio Einstein se referiu ao artigo de 1901 sobre a capilaridade como “nosso” em uma carta a Marić, sugerindo que ela esteve, de algum modo, envolvida em sua produção. Isso levou alguns estudiosos a sugerir que Marić foi, na verdade, colaboradora de Einstein e possivelmente a fonte de algumas de suas ideias. Esse ponto é importante, devido à notável série de artigos que Einstein publicou nos Annalen der Physik em 1905. Seria possível uma única pessoa realizar um feito tão assombroso, considerando o brilhantismo e originalidade desses artigos?

Essa sugestão se encaixa em uma narrativa midiática influente, que (corretamente) observa que artistas e acadêmicos de sexo masculino nesse período tinham a tendência a incorporar as ideias de mulheres estudantes ou colaboradoras em seu próprio trabalho sem os devidos créditos. 

Um documentário de 2003 intitulado A mulher de Einstein, desenvolvido pela distribuidora e produtora australiana Melsa Films, afirmou que Marić foi originalmente creditada como coautora em vários desses artigos de 1905 antes que seu nome fosse misteriosamente removido da versão final dos textos. Teria havido uma trama para disfarçar o fato de que ela era, na verdade, coautora desses artigos?

A partir de extensas críticas acadêmicas desse filme, essa sugestão não é mais levada a sério, pois parece confiar em uma série de equívocos, inclusive uma tradução errada de alguns comentários (duvidosos) feitos pelo físico russo Abram F. Joffe. 

As evidências que agora são geralmente aceitas indicam que Marić de fato apoiou e encorajou Einstein, ajudando-o a localizar informações e talvez ocasionalmente verificando os cálculos matemáticos. Ela desempenhou um papel semelhante ao de Michele Besso, que Einstein considerava uma “caixa de ressonância” para suas ideias. Entretanto, as ideias fundamentais eram do próprio Einstein, mesmo que ele fosse sábio o bastante para consultar outros em sua tentativa de apresentá-las com mais eficácia.

Aqui no blogue MC:

Alister McGrath em um livro fascinante sobre as concepções de Albert Einstein em relação à ciência, religião e o significado da vida


Albert Einstein continua sendo o gênio favorito do mundo, conduzido à fama pela admiração popular despertada por suas teorias científicas revolucionárias sobre o espaço e o tempo. 

Atualmente, um século após a confirmação da teoria da relatividade geral em novembro de 1919, Einstein permanece uma figura idolatrada. 

Apareceu na capa da revista Time mais de seis vezes e foi eleito “Pessoa do Século” em 1999. A equação E = mc² se tornou a fórmula científica mais conhecida de todos os tempos e — assim como o estilo de corte de cabelo característico de Einstein — é estampada frequentemente em camisetas e cartazes.

Os fotógrafos adoravam Einstein. Uma de suas fotografias mais conhecidas é a de Arthur Sasse, em que Einstein põe a língua para fora. Essa fotografia icônica foi tirada em 1951, ao final da festa de aniversário dele, em Princeton, quando Einstein, cansado, entrava em seu carro para ser levado para casa pelo motorista. 

Sasse, que estava cobrindo o evento, correu até a porta e pediu uma última foto para Einstein. Einstein se virou para ele e pôs a língua para fora no exato instante em que surgiu o clarão do flash da câmera de Sasse. Einstein gostou tanto da fotografia que a usou em cartões comemorativos que enviava aos amigos.

Os fotógrafos adoravam Einstein. Uma de suas fotografias mais conhecidas é a de Arthur Sasse, em que Einstein põe a língua para fora. […] Einstein gostou tanto da fotografia que a usou em cartões comemorativos que enviava aos amigos.”

Alister McGrath

As ideias de Einstein mudaram o modo como pensamos e vivemos. Sem que o percebamos, dependemos de sua teoria da relatividade quando usamos um Sistema de Posicionamento Global, ou GPS. A luz e o calor do sol são o resultado direto da conversão de massa em energia, o processo que Einstein identificou pela primeira vez em 1905 e expressou na equação E = mc². Esse mesmo princípio está por trás dos geradores de energia nuclear — e das bombas atômicas. 

Einstein ativou a corrida dos Estados Unidos para construir a bomba atômica em 1939 com uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt, alertando-o de que a Alemanha nazista chegaria primeiro, a menos que os Estados Unidos se comprometessem a desenvolver a tecnologia necessária. (Uma cópia dessa carta datilografada foi vendida na casa de leilões Christie’s em Nova York por 2,1 milhões de dólares em 2008.)

A imensa estima devotada a Einstein pela comunidade científica acadêmica e popular fazia com que as pessoas se dispusessem a escutar quando ele falava sobre questões mais amplas. Quando a teoria da relatividade geral foi confirmada triunfalmente, em novembro de 1919, ele se tornou uma sensação na mídia. A viagem dele aos Estados Unidos em 1921 foi notícia de primeira página.

No entanto, Einstein não falava apenas de ciência. Ele levantou questões sobre o valor e o significado dos seres humanos — o que o filósofo Karl Popper chamou mais tarde de “questões últimas”. As pessoas escutavam Einstein com atenção e respeito. Ele se tornou um gênio famoso, um intelecto de imenso prestígio, que conseguiu obter um status de ídolo cultural sem baixar o nível do discurso.

 “Einstein não falava apenas de ciência. Ele levantou questões sobre o valor e o significado dos seres humanos.”

Alister McGrath

Einstein não se encaixa no estereótipo limitado do gênio científico. Em uma visita à Califórnia, ele formou uma surpreendente amizade com o astro do cinema Charlie Chaplin. Em 1931, Chaplin convidou Einstein para assistir à estreia do seu filme Luzes da Cidade. A multidão foi à loucura quando Einstein e Chaplin chegaram juntos. Segundo uma lenda popular, Chaplin disse a Einstein: “Eles estão aplaudindo você porque ninguém o entende, e a mim porque todos me entendem”.

Einstein não se encaixa no estereótipo limitado do gênio científico. Em uma visita à Califórnia, ele formou uma surpreendente amizade com o astro do cinema Charlie Chaplin. Em 1931, Chaplin convidou Einstein para assistir à estreia do seu filme Luzes da Cidade. A multidão foi à loucura quando Einstein e Chaplin chegaram juntos. Segundo uma lenda popular, Chaplin disse a Einstein: “Eles estão aplaudindo você porque ninguém o entende, e a mim porque todos me entendem”.

Einstein não se encaixa no estereótipo limitado do gênio científico. Em uma visita à Califórnia, ele formou uma surpreendente amizade com o astro do cinema Charlie Chaplin. Em 1931, Chaplin convidou Einstein para assistir à estreia do seu filme Luzes da Cidade. A multidão foi à loucura quando Einstein e Chaplin chegaram juntos. Segundo uma lenda popular, Chaplin disse a Einstein: “Eles estão aplaudindo você porque ninguém o entende, e a mim porque todos me entendem”.

Apesar de Einstein ter recebido o Prêmio Nobel de Física em 1921, pode-se dizer que sua maior realização foi ter-se tornado admirado, até adorado, pelo grande público. Muitos percebiam que, embora Einstein fosse difícil de entender, havia compreendido algo profundo acerca de nosso universo que outros não haviam conseguido compreender. Valia a pena ouvi-lo — mesmo que isso fosse difícil e exigisse esforço. […] o status de Einstein significa que vale muito a pena escutá-lo, especialmente quando se pensa em como entender nosso universo. […] 

Muitas declarações atribuídas a Einstein não apresentam nenhuma ligação com ele. Aqui está uma que costuma ser atribuída a Einstein, e que eu vi pela primeira vez na camiseta que alguém usava em uma universidade norte-americana: “Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado”. É uma grande ideia, mas não é de Einstein. 

Aqui no Blogue MC:

Uma leitura cristã e Einstein

Ao longo deste livro, tentei garantir a citação confiável de suas obras. Eis uma citação autêntica que constitui o programa deste livro: “A ciência só pode averiguar o que é, mas não o que deveria ser”. Einstein nos convida aqui a explorar uma forma de manter o pensamento científico e moral unidos e estabelece um jeito próprio de fazer isso.

Ciência, ética e religião são empreendimentos bem diferentes, desempenhando papéis distintos em nossa vida e baseados em padrões de pensamento diferentes.

Como, então, podemos reunir essas perspectivas singulares em um todo coerente? Esse é um problema genuíno, e Einstein nos ajuda a pensar sobre ele.

Embora este livro explore as ideias científicas de Einstein, seu verdadeiro foco é como ele tentou desenvolver uma visão coerente do mundo — uma “grande teoria de tudo” que abarcasse tanto nosso entendimento de como o mundo funciona quanto a questão mais profunda do que ele significa.

Einstein não foi apenas um grande cientista; foi um ser humano que refletia e que percebeu a importância de manter unidas nossas principais ideias e crenças. Suas reflexões sobre como criar esse “grande quadro” de nosso mundo e de nós mesmos podem nos ajudar a ir além da fragmentação de ideias e valores que se tornou uma característica central da cultura ocidental.  

McGrath, Alister E., Uma teoria de tudo (que importa): Uma breve introdução a Einstein e suas ideias surpreendentes sobre Deus. 1. ed. -São Paulo: Mundo Cristão, 2021, Págs. 42- 47; 7-10, adaptado para o blogue MC.

Saiba mais!

As concepções de Albert Eistein em relação à ciência, religião e o significado da vida.


Uma teoria de tudo (que importa), Alister McGrath examina a vida e o legado de Einstein, explicando seu significado científico e considerando o que Einstein fez e não fez, o que ele acreditava e não acreditava sobre ciência, religião e o significado da vida.

Instigante e esclarecedor, o livro é leitura obrigatória para quem deseja compreender o papel da fé em um mundo em que a ciência e a tecnologia ocupam papel fundamental na sociedade e influenciam o estilo de vida das pessoas.

Disponível nas livrarias e lojas virtuais! 

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Sobre o autor: 

Alister McGrath é atualmente professor de Ciência e Religião na Universidade de Oxford, onde obteve o doutorado em biofísica molecular, em teologia e em história intelectual. Ex-ateu, tornou-se conhecido por seu envolvimento em debates culturais sobre a racionalidade e a relevância da fé cristã, e também por A vida de C. S. Lewis, biografia publicada pela Mundo Cristão. Autor de mais de cinquenta livros e palestrante renomado, McGrath vive em Cotswolds, perto de Oxford.

Veja também: 

Fé e ciência: como trafegar pelos dois campos?, entrevista com Gustavo Assi, da ABC²

Reportagem especial: “Mulheres e meninas na Ciência”  

Podcast Quarta Capa 11: “Cristãos e a ciência”, com Pedro Dulci 

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