Skip to content Skip to footer

Gestão do tempo, produtividade e espiritualidade

Confira nosso bate-papo com Allen Porto, pastor, podcaster e produtor de conteúdo em assuntos relacionados à espiritualidade cristã e ao equilíbrio bíblico das emoções

Você se sente sufocado pelo excesso de atividades? Está estressado ou frustrado com o não cumprimento de prazos e objetivos? Percebe que seu humor já não é o mesmo e que sua saúde física e emocional não anda bem? Aflige-se com o avançar das horas, mas não consegue fazer muita coisa porque está abatido e cansado? Amarga sentimento de culpa?

Ler este artigo, fruto de um bate-papo com Allen Porto, certamente fará bem a você. Allen é pastor, podcaster, professor e criador do blogue A Bíblia, O Jornal e a Caneta (BJC), plataforma em que compartilha conteúdo sobre espiritualidade, equilíbrio bíblico das emoções, aconselhamento, restauração de relacionamentos e produtividade, entre outras temáticas.

Graduado em Direito e Teologia, especialista em História da Igreja e Mestre em Teologia Sagrada pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, Allen Porto tem utilizado os meios digitais para anunciar o evangelho e incentivar cada cristão a ter um estilo de vida mais saudável nos mais diversos aspectos, incluindo a relação entre vida profissional e espiritual.  

Na entrevista concedida à equipe MC, Allen aborda questões importantes para quem deseja administrar o tempo com sabedoria, imprimir satisfatória produtividade e não negligenciar a espiritualidade, tendo em vista princípios de fé cristã imprescindíveis para uma vida mais plena.

“Sucesso” idealizado e desgaste intenso

É incontável o número de pessoas que estão esgotadas física e emocionalmente em decorrência da agenda que transborda compromissos, da constante sensação de atraso e incapacidade. Assim, se angustiam não apenas pela culpa, mas também pela fadiga que já se mostra crônica. Como chegaram a esse ponto? De acordo com Allen Porto, há diferentes caminhos que culminam na condição mencionada, mas, de modo geral, todos transitam pelas conexões entre o coração caído do ser humano e os modos como a cultura privilegia certos problemas.

“Um padrão de pensamento comum é o de que ‘o nosso valor está no sucesso’, na performance ou na produtividade. Esse é o reflexo de uma cultura que idealiza o ‘sucesso’ como fonte de sentido e descanso para a alma. Nesse conceito reside o problema fundamental do nosso coração: a busca de identidade longe de Deus. A pessoa que é capturada por essa visão — a de que seu valor está no sucesso — acaba sendo esmagada pelo peso de expectativas irreais, e dificilmente conseguirá descansar ou se satisfazer em seu estágio de vida enquanto não tiver alcançado o tal ‘sucesso’”.

Outro padrão comum, aponta Allen, é a ideia de que “eu não posso parar, se não tudo se perde”. Por meio dessa linha de pensamento, o coração do indivíduo se manifesta autocentrado, e ele reproduz uma perspectiva da cultura que diz que “eu construo a minha história”, e “as coisas dependem do meu esforço”, o que o leva a pensar que não pode parar, pois isso representaria o fim. “Algumas pessoas realmente acreditam que não podem descansar de suas demandas, ou então tudo entrará em desordem. O resultado disso é desgaste intenso”, sinaliza.

“Algumas pessoas realmente acreditam que não podem descansar de suas demandas, ou então tudo entrará em desordem. O resultado disso é desgaste intenso”.

Allen Porto

O desgaste intenso cobra caro. Entre os impactos físicos e emocionais mais percebidos por quem vivencia longo período de estresse estão problemas como: dificuldade para dormir, baixa imunidade, fadiga e alterações de humor (irritabilidade, ansiedade, ataques de pânico, desânimo e depressão). Allen Porto percebeu tais impactos não apenas ao ouvir muitas pessoas em anos de exercício pastoral, mas também em sua vida pessoal.

“Posso mencionar minhas lutas profundas, experiências de esgotamento e dificuldade de caminhar em meio a tantas demandas incompletas. Eu experimentei todo o desgaste sobre o qual falo — sei o que é ser massacrado pelo senso de culpa diante de tarefas não concluídas, e não ter energia para completá-las. Sei o que é ter crises de ansiedade e imunidade baixa que nos faz adoecer”, afirma.

Leia em nosso blogue: 6 atitudes para combater a ansiedade e o medo

Clareza

O que dizer a quem está envolvido em cronogramas apertadíssimos, se vê vez após outra “apagando incêndios” e não consegue acalmar a mente, nem mesmo nos momentos de lazer? Qual conselho dar para quem precisa administrar o caos, recarregar as baterias e respirar aliviado? No intuito de oferecer conselhos práticos a quem está nessas condições, Allen convida o leitor a assimilar duas visões que nem sempre são evidentes.

A primeira delas é que a resposta decisiva para os dilemas com a produtividade não está em métodos, técnicas ou recursos. [O uso de um método ou uma técnica é algo secundário, como veremos a seguir]. Assim, produtividade é uma questão do coração, e é lá que o incêndio precisa ser tratado fundamentalmente. A segunda visão é compreender que “para aprender a produzir, precisa-se primeiro aprender a descansar”. Conforme sugere o pastor, “a solução não está em mais uma latinha de energético para virar a noite freneticamente, mas em aprender a descansar em Deus, para recarregar as baterias e trabalhar com um senso renovado de ordem, vocação e ânimo”.

“A solução não está em mais uma latinha de energético para virar a noite freneticamente, mas em aprender a descansar em Deus, para recarregar as baterias e trabalhar com um senso renovado de ordem, vocação e ânimo.”

Allen Porto

Após compreender os ponto elucidados anteriormente e levar tudo a Deus em oração, pode-se buscar métodos e técnicas úteis para cumprir as demandas. Um deles é o de “desenvolver clareza”, hierarquizando os projetos e as tarefas, para dar atenção ao que é mais importante. Essa decisão intencional faz muita diferença em termos de descanso para a mente’”, esclarece Allen Porto.  

Assim, para gerir bem o tempo, deve-se organizar a mente. É imperativo ter consciência do lugar que os projetos e tarefas ocupam na vida e na agenda, prestar atenção para não se sobrecarregar e não ser levado na enxurrada de demandas. Precisa-se saber a qual rumo está seguindo.  

Como gerir bem o tempo e ter mais produtividade?

Tempo

Para Allen, uma boa gestão do tempo começa pelo reconhecimento de que somos finitos e só poderemos trabalhar dentro dos limites que Deus impôs graciosamente a nós. Nesse processo, deve-se identificar e listar — em uma folha de papel mesmo — todos os projetos e tarefas.

  • Projetos: áreas de atuação, como “casa”, “família”, “trabalho”, “igreja” e “estudos”; ou então tudo aquilo que demanda mais de uma tarefa: o “projeto construção da casa”, o “projeto aprendizado de inglês” etc.
  • Tarefas: são as ações que precisam ser efetivadas dentro dos respectivos projetos.

Ao pontuar a questão dos projetos e das tarefas, Allen cita Christian Barbosa, autor do best-seller e do método A tríade do tempo, em que classifica as demandas em três categorias: importantes, urgentes e circunstanciais. Tendo tal hierarquização em mente, é importante investir em atividades que realmente rendam os frutos almejados. Listar projetos e tarefas induz à assertividade e viabiliza o planejamento dentro de uma perspectiva mensal, semanal e diária, elencando prioridades, sem perder tempo com o que é inócuo.

O que é ser produtivo?

Ser produtivo, conforme assegura Allen, não é estar sempre ocupado. A verdadeira produtividade — aquela que possui uma base distintamente cristã — não se baseia apenas no “fazer muitas coisas”, mas sim nos motivos, meios e modos. Não adianta fazer muito, é preciso saber o que se está fazendo, por que está fazendo e em que direção está seguindo. “A verdadeira produtividade nasce do alinhamento do nosso coração diante de Deus, para discernirmos questões como identidade, discipulado, vocação e momento”, sintetiza.

“A verdadeira produtividade nasce do alinhamento do nosso coração diante de Deus, para discernirmos questões como identidade, discipulado, vocação e momento.”

Allen Porto

Aqui, Allen traz à tona estereótipos e ideias do imaginário socialmente construído: escritórios agitados e empreendedores de sucesso trabalhando até tarde da noite, andando de terno e esbanjando dinheiro, e sugere uma reflexão ao parafrasear Francis Schaeffer: [devemos] “sair daquilo que o mundo chama de ‘produtividade’, para uma “verdadeira produtividade”.

Gestão do tempo e produtividade numa perspectiva bíblica

“Desde a Queda, o problema do pecado se manifesta de diferentes maneiras em diferentes épocas, culturas e contextos”, relembra Allen Porto. “Nossa época tem percebido e experimentado desafios peculiares, e um deles é a agitação constante e seus efeitos destrutivos. Os motivos e os desdobramentos de tal agitação apontam para ídolos, pecados e outros desvios mais profundos do que apenas a ausência de uma lista de tarefas”.

Com essas palavras, Allen relembra que a Bíblia nos apresenta nossa identidade fundamental, trabalha nosso senso de vocação, providencia a base para servirmos a Deus e nos dá sabedoria para as decisões diárias.

“Há muitos ensinos diretos e implicações (indiretas) nas Escrituras. Um dos meus textos preferidos é o do Salmo 127. Ali, o esforço humano é colocado em contraste com a graça de Deus: o homem trabalha para edificar a casa, vigia a cidade, dorme tarde e acorda cedo, mas o Senhor precisa agir para que o esforço humano tenha validade. Essa compreensão é essencial para entendermos os limites de nossa atuação, ao mesmo tempo em que somos encorajados a orar e labutar. O ensino bíblico sobre ‘remir o tempo porque os dias são maus’ (Ef 5.16), embora não seja um texto sobre produtividade no sentido comum, ajuda-nos a perceber que a clareza quanto ao tempo permite ter foco adequado.

Se o Senhor não constrói a casa, o trabalho dos construtores é vão. Se o Senhor não protege a cidade, de nada adianta guardá-la com sentinelas.

É inútil trabalhar tanto, desde a madrugada até tarde da noite, e se preocupar em conseguir o alimento, pois Deus cuida de seus amados enquanto dormem.”

Salmos 127.1-2, NVT

Descanso

“Na concepção cristã, o descanso é exemplo, é lei, é nossa condição diante de Deus, é uma disciplina do Senhor para moldar o coração humano”, relembra Allen Porto. “Quando descansamos, aprendemos a confiar que a provisão, em última análise, vem do Senhor. Mesmo quando somos ‘inúteis’, ele continua nos amando e provendo para nós. Tal concepção traz várias lições sobre humildade, confiança, identidade e graça”.

“O tema do descanso nos é apresentado na Escritura logo no início. Deus cria o universo em seis dias, e separa o sétimo dia para descansar e apreciar sua criação. Obviamente, ele não precisava descansar. Ao fazê-lo, nos ensinava algo: a santidade do Dia do Senhor, um dia para descansar e adorar. O descanso também está presente nas leis de semeadura, apresentando uma estrutura na criação que segue ciclos de trabalho e descanso”.

“O tema ‘descanso’ perpassa a Bíblia, com a promessa de entrarmos no descanso do Senhor. Em Jesus, encontramos o descanso pela fé (Hb 4.3). O descanso final será concretizado na Consumação, quando seremos plenos em Cristo”.

Para Allen, a forma mais básica de estabelecer períodos de descanso reside em observar o Dia do Senhor, ao separar o dia de domingo para adorar e descansar, atitude que demanda compromisso deliberado para não responder e-mails, desafogar pendências ou adiantar serviço. Esse é um dia para entender que, diferentemente do que dizem, pode-se, sim, parar. Além disso, o descanso envolve intervalos sabáticos para pequenas apreciações das belezas da vida, como brincar com os filhos, tomar um café, desfrutar do silêncio e da solitude ou ouvir uma canção.

Conheça o livro Convite à solitude, escrito por Brennan Manning

Gestão do tempo: uma pauta importante para a igreja

“Devemos aplicar o evangelho às questões do dia”, reitera Allen, “O sacrifício de Jesus redime nossa alma e nossa agenda”, complementa. Tendo em mente tais verdades, ele sugere que a igreja deve considerar que não há terreno neutro na vida, e que é importante observar a totalidade da experiência humana a partir da visão bíblica. Essa abordagem permite que o trabalho de evangelização, discipulado e pastoreio aconteça: “Há tantas pessoas vivenciando as dores do burnout, do cansaço e das relações doentias com o trabalho que as conversas sobre esse tema são instrumentos de acolhimento, pastoreio e ministração da graça. Também são um convite a que parem de tentar comprar a salvação com produtividade, a crerem somente na performance de Jesus”, salienta.  

Leia em nosso blogue: Burnout no trabalho. O que é e como evitar?

Uma mensagem aos leitores da Mundo Cristão

Por fim, Allen Porto deixa uma mensagem aos leitores da Mundo Cristão, especialmente àqueles que desejam (e precisam) imprimir um novo estilo de vida: “Você não é suas falhas, tampouco é suas conquistas. Sua identidade está somente em Jesus, e é nele que você encontra força e graça para estabelecer uma caminhada de vida com sabedoria. Alinhe seu coração, reconhecendo que por trás de suas lutas existem dimensões mais profundas a serem trabalhadas. Revise suas prioridades com foco na eternidade, e dê os menores passos para esse realinhamento. Seja paciente, persistente e consistente. Deus é digno, e você não está sozinho na caminhada. Que Deus o abençoe!

Para saber mais sobre o trabalho de Allen Porto, acesse allenporto.com; allenporto.com.br e o perfil no Instagram @allenporto.

Livros que indicamos para você:

As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho

Lições da Bíblia para o sucesso no trabalho

Não aguento meu emprego

Uma vida com prioridades  

Artigos relacionados:

Como honrar a Deus com meu trabalho?

Descanso como ingrediente do sucesso

Gestão de carreira e revisão de identidade profissional

Para quem deseja recomeçar

Deixe um comentário

Inscreva-se em nossa newsletter e receba informações sobre nossos lançamentos!