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“Sofrimento redimido”, um texto de Philip Yancey

Uma reflexão honesta que nos convida a seguir em frente, acreditando que Deus jamais perde o controle da nossa história, mesmo quando tudo parece ruir

A seguir, você lerá um trecho do livro A pergunta que não quer calar, escrito por Philip Yancey.

Na obra, o autor aborda a difícil questão: “Onde está Deus no sofrimento” e mostra aos leitores um caminho pavimentado pela esperança e pela fé. A partir de sua experiência como jornalista e escritor, Yancey compartilha experiências obtidas por meio do contato com gente que passou pelas mais difíceis situações e oferece encorajamento num relato permeado de verdades e conselhos fundamentados na Palavra de Deus. Com total honestidade, ele ainda dá orientação para aqueles que querem ajudar quem está passando pela dor. Um livro que estimula à reflexão e à ação.

Para ler a sinopse do livro A pergunta que não quer calar e adquiri-lo pelo site da Mundo Cristão, clique aqui ou no link indicado logo após o artigo.

Confira, agora, um trecho para sua edificação. Boa leitura!

Sofrimento redimido

Por Philip Yancey em A pergunta que não quer calar

A visão cristã do sofrimento concentra-se na palavra redentor. Embora a dor em si possa causar indignação e protesto, ela também pode contribuir para a vida — em outras palavras, ela pode ser redimida. Eu me oponho a quem presume que Deus nos manda o sofrimento para realizar o bem. Não, nos evangelhos ainda não consegui ver Jesus dizendo aos aflitos: “A razão de sua hemorragia (ou paralisia, ou lepra) é que Deus está trabalhando para a construção do seu caráter”. Jesus não censurava pessoas assim; ele as curava. Contudo, quase todas as passagens do Novo Testamento sobre o tema do sofrimento exploram a ideia de que até uma coisa “ruim” pode ser redimida para o bem.

Escrevendo cartas para crentes que estavam sendo injustamente perseguidos por sua fé, Paulo, Tiago e Pedro, os três, enfatizaram o valor redentor do sofrimento. Por exemplo, Paulo disse aos romanos: “[Nós] também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado, e o caráter aprovado, esperança” (Rm 5.3).

O apóstolo Paulo comparou suas árduas conquistas a um monte de esterco; no entanto, até o esterco pode ser reciclado, como fertilizante. Os sofrimentos de Martin Luther King Jr., de Nelson Mandela, de Alexander Soljenítsin foram todos redimidos de forma que eles não poderiam imaginar quando eles aconteceram. E o mais extraordinário crime da História, a execução do próprio Filho de Deus, nós o relembramos na Sexta-feira Santa, que não denominamos tétrica nem trágica. Jesus disse que ele poderia ter convocado legiões de anjos para impedir a crucificação. Não o fez. O caminho redentor passa pelo sofrimento, não ao redor dele.

Algumas semanas depois de voltar de Sarajevo, eu peguei dois livros, um velho e outro novo, escritos por meu amigo Jerry Sittser, um professor do Whitworth College, que relata sua saga de sofrimento redentor. Vinte anos atrás, Jerry estava levando sua família numa minivan por uma região rural de Idaho quando um motorista embriagado correndo a 130 quilômetros por hora perdeu o controle de seu veículo numa curva, atravessou a estrada e chocou-se de frente com a van de Jerry. Nos poucos minutos seguintes, apesar de suas desesperadas tentativas de ressuscitação, Jerry viu mulher, mãe e filha de 4 anos morrendo diante de seus olhos. Ele perdeu três gerações de um só golpe, e seus outros três filhos que sobreviveram estavam gravemente feridos.

Jerry escreveu sobre esse drama no primeiro livro, A Grace Disguised [Uma graça disfarçada], que ajudou muitas outras pessoas a lidar com a própria dor e perda. Nessa obra ele detalha os estágios do luto e as dificuldades de levar uma vida de pai de três órfãos de mãe, mantendo ao mesmo tempo um emprego em tempo integral. Ele escreve: “Lembro-me de ter afundado em minha poltrona preferida noite após noite, sentindo-me tão exausto e angustiado que me perguntava se eu conseguiria sobreviver mais um dia, se eu queria sobreviver mais um dia. Sentia-me punido simplesmente por estar vivo e achava que a morte me traria um grande alívio”.

Jerry enfrentou um ponto crítico em sua existência. O futuro assomava como um vasto e assustador campo desconhecido. “A perda causada pelo acidente havia mudado minha vida, colocando-me numa rota pela qual, querendo ou não, eu tinha de seguir. Foi-me atribuída uma carga tremenda e um desafio terrível. Tive de enfrentar o teste de minha vida. Uma fase da existência havia terminado; outra, a mais difícil, estava para começar.”

Vinte anos mais tarde, Jerry escreveu outro livro, A Grace Revealed [Uma graça revelada], que complementa o primeiro. Ele nos diz o que aconteceu desde a época do acidente: a ajuda prática que recebeu de estudantes e outros membros da faculdade, os esforços para criar filhos sem mãe, e por fim os novos desafios de um segundo casamento e uma nova família. Cada uma das palavras mencionadas por Paulo — perseverança, caráter, esperança — tem seu papel na história de Sittser, e a parte inicial do livro enfoca a palavra redenção.

Muitas palavras que começam com o prefixo re-, observa Sittser, referem-se a algum estado original do passado. Nós re-formamos a casa, re-tornamos às aulas depois de um recesso escolar, re-organizamos o escritório, re-descobrimos o prazer de esquiar. A palavra redimir acrescenta uma nova dimensão simplesmente apontando para a frente, para o futuro. Um escravo redimido é libertado para uma nova vida; um pecador redimido entra num novo estado de graça. Entretanto, acrescenta Jerry, a redenção sempre envolve um custo. Para redimir um escravo, alguém precisa pagar — ou, no caso da Guerra Civil Americana, toda uma nação precisa pagar. Para redimir um planeta, Alguém precisa morrer.

Eu sugeriria mais um fato acerca da redenção: mesmo no novo estado, ficam cicatrizes. Um escravo alforriado carrega literalmente, em seus membros e nas costas, cicatrizes causadas por grilhões e açoites. Um alcoólatra redimido carrega cicatrizes no fígado. O sofrimento redimido também inclui cicatrizes: o acidente e suas consequências nunca se apagarão da memória de Jerry e de seus filhos.

Os sobreviventes do tsunami, as vítimas da guerra de Sarajevo, a comunidade de Newtown — todos poderão descobrir novas maneiras de suportar o sofrimento, até de redimi-lo, mas as penosas lembranças nunca irão, nem deveriam, desaparecer. Até o corpo de Jesus ressuscitado conservou suas cicatrizes.

No capítulo final de A Grace Revealed, Jerry admite que não pode terminar o livro de um modo tão elegante e arrumado como numa história infantil, relatando que depois de um tempo a vida foi seguindo “feliz para sempre”.

No fim, viveremos felizes para sempre, mas só quando a história da redenção terminar, e isso parece estar muito distante. Entrementes, você e eu nos situamos em algum ponto no meio da História, como que presos no caos e na confusão de um inacabado projeto de reforma de uma casa.

É possível que falte mais um capítulo em nossa história, ou talvez faltem cinquenta. Poderíamos provar mais do mesmo por muitos anos no futuro, ou poderíamos estar à beira de uma mudança tão dramática que, se tivéssemos conhecimento dela, desmaiaríamos de medo ou assombro, ou ambos. Poderíamos estar ingressando na fase mais feliz de nossa vida, ou na mais triste. Nós simplesmente não sabemos e não podemos saber. […]

A meu ver, só temos uma boa opção: precisamos optar por continuar na história redentora. Por mais obscuro que isso possa parecer, podemos confiar que Deus está escrevendo a História.

Fonte: Yancey, Philip A pergunta que não quer calar / Philip Yancey; — 1. ed. — São Paulo: Mundo Cristão, 2015. Págs. 86 a 90. Philip Yancey cita: A Grace Revealed. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2012. Pg. 260.

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Leia também:

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