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MC lança “Uma fé pública”, de Miroslav Volf

Saiba mais sobre a novidade em entrevista exclusiva com Daniel Faria, editor de obras internacionais da MC

Em janeiro, a Mundo Cristão lançou o livro Uma fé pública, sucesso internacional escrito por Miroslav Volf. Na obra, o renomado teólogo croata sistematiza as questões que afetam a presença cristã num mundo cada vez mais secularizado.

Tendo como alvo a participação dos cristãos para o bem comum, Volf conduz o leitor a um rico debate sobre as implicações da tolerância e da liberdade religiosa no ambiente polarizado de nossos dias, e aponta para a busca de relevância e diálogo no cenário excessivamente conturbado das sociedades contemporâneas.

Para compartilhar mais curiosidades acerca da novidade com você, leitor MC, conversamos com Daniel Faria, editor de obras internacionais da Mundo Cristão. No bate-papo, Daniel traz à tona algumas temáticas apresentadas por Miroslav Volf, fala acerca da importância da publicação para o público brasileiro e muito mais. Um conteúdo enriquecedor que você não pode perder!

Mundo Cristão: Religião e esfera pública. Igreja e Estado. É possível conciliá-los? Qual é a posição de Miroslav Volf sobre o assunto?

Daniel Faria: Na visão de Volf, não se trata exatamente de conciliar igreja e estado, mas de constatar que, exceto em casos de regimes totalitários, sempre haverá alguma conexão entre fé e a esfera pública, ainda que não de forma institucional. “Para muitas pessoas religiosas, é parte integrante de seu compromisso religioso basear suas convicções sobre questões públicas em razões religiosas”, escreve o autor.

Numa sociedade saudável e democrática, esses indivíduos precisam, como cidadãos, ser devidamente representados e ter suas reivindicações ouvidas no debate público. Para isso, acredita Volf, o estado deve lidar com as diferentes perspectivas religiosas de modo imparcial, em vez de buscar uma completa ruptura.

Na pós-modernidade, contexto de crescente aversão à fé, é possível relegar a religião a uma esfera secundária, desprezando seu papel social e sua influência nas diferentes culturas e nações? O que o autor elucida em relação a essa questão?

Embora haja, em certa medida, uma aversão à fé nos tempos atuais, o autor insiste em destacar que as visões de mundo que crescem mais rapidamente hoje são religiosas: o islamismo e o cristianismo. “E, na maioria das vezes”, escreve Volf, “elas são propagadas não por serem impostas de cima para baixo, mas por uma onda de entusiasmo para transmitir a fé e uma sede de recebê-la.”

O poder do estado, dos centros econômicos, da mídia ou das elites do conhecimento não tem sido capaz de demover a influência religiosa do chamado mundo pós-moderno. Como diz o autor, “as massas de crentes são em si mesmas os agentes mais importantes de sua difusão”.

De acordo com as ideias apresentadas por Volf, é possível a coexistência e a participação ativa de vozes religiosas de diferentes confissões no ambiente público e político? De que forma isso pode acontecer sem que haja abertura à hostilidade ou à imposição de uma cosmovisão em detrimento de outra?

Sim, é possível, acredita Volf, embora não seja tarefa simples. Para que isso aconteça, importa reconhecer tanto as diferenças entre as religiões como seus pontos em comum. “Se enxergamos apenas diferenças, vamos conferir poder àqueles que semeiam o ódio em vez da paz e que promovem conflitos em vez da cooperação.

Se enxergamos apenas pontos em comum, teremos ou de nos conformar com os outros ou eles terão de se conformar conosco; mais provavelmente, distorceremos e desonraremos os outros e a nós mesmos.” Um ponto de partida, então, é visualizar e respeitar esses dois aspectos — as inegáveis diferenças que conferem às comunidades um caráter peculiar e os pontos em comum que as unem —, para que sejamos capazes de honrar cada uma delas e promover a viável coexistência de todas.

Segundo o autor, qual deveria ser a postura coerente do cristão nesse ambiente plural em que dinamizam pessoas de diferentes fés e visões de mundo?

Na visão de Volf, “A única maneira de lidar com o problema de conflitos violentos entre diferentes perspectivas de vida — religiosas ou seculares — é concentrar-se nos recursos internos de cada perspectiva para o fomento da cultura da paz”.

Falando como cristão, o autor menciona que o próprio âmago da fé cristã nos lembra que Deus amou o mundo pecaminoso e que Cristo morreu pelos ímpios. Cabe aos seguidores de Cristo, portanto, amar seus inimigos como a si mesmos. “Amor não significa concordância e aprovação”, ressalta Volf, “significa benevolência e beneficência, em que pesem discordâncias e desaprovações.” É com essa postura amorosa que o cristão poderá participar do debate público em prol do bem comum.

No livro, Volf fala sobre o crescente secularismo no ambiente político. O que é isso? De que forma esse conceito afeta a sociedade?

O secularismo, que advoga a separação entre governo e religião, é descrito pelo autor como “um conjunto de valores relacionados e de alegações de verdades em parte seletivamente herdadas da tradição, em parte geradas pelo mercado e em parte derivadas das ciências duras”. Ou seja, trata-se de apenas “outra perspectiva de vida que não está acima dos conflitos, mas participa deles como um dos autores”.

Seu histórico, nos lembra Volf, não é melhor que o das religiões. “A maior parte da violência perpetrada no século 20, o mais violento século da história da humanidade, foi cometida em nome de causas seculares.” A questão, assim, não é condenar o secularismo, mas lembrar que, ao excluir a religião da tomada de decisões e ao impor separação total entre igreja e estado, o secularismo acaba sendo a perspectiva geral favorecida, o que é claramente uma injustiça contra quem adota uma religião.

O livro foi escrito apenas para cristãos?

É verdade que, na introdução do livro, Volf afirma: “Escrevo como cristão para seguidores de Cristo. Não escrevo como uma pessoa genericamente religiosa para adeptos de todas as religiões, um projeto que fracassaria desde o princípio”.

No entanto, sua argumentação criteriosa e bem fundamentada visa a todo aquele que se interessa pela relação entre fé e esfera pública. Nesse aspecto, a leitura da obra beneficiaria grandemente não apenas os cristãos, mas também agentes públicos, acadêmicos e, é claro, crentes de outras religiões.

As ideias apresentadas em Uma fé pública podem ser interpretadas como uma proposta ecumênica? O que o leitor precisa ter em mente ao ler a obra?

Não há nenhuma ocorrência da palavra “ecumenismo” no livro, o que nos impede de extrair conclusões acerca de um tema que não é diretamente tratado pelo autor. O que Volf de fato reforça, como já destacamos nas respostas anteriores, é a necessidade de procurar pontos em comum com as diferentes perspectivas religiosas do mundo hoje, sem que isso resulte em um abandono da própria identidade.

“A vida pública sem discordâncias e conflitos é um sonho utópico cuja realização nas condições nada utópicas deste mundo causaria mais dano que bem”, escreve o autor. Se o conceito de ecumenismo, portanto, é o de uma diluição da identidade central de uma religião em favor de uma harmonia superficial, então tal conceito não condiz com as propostas do autor.

Quem é Miroslav Volf?

Miroslav Volf é um dos teólogos mais renomados do cristianismo hoje, além de uma voz relevante nos debates sobre o papel da fé no mundo contemporâneo. Atualmente, exerce o papel de professor de teologia e diretor do Centro de Fé e Cultura da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Nascido em 1956, na Croácia, estudou filosofia e grego clássico na Universidade de Zagreb e teologia no Seminário Teológico Evangélico de Zagreb, onde se graduou com uma tese sobre Ludwig Feuerbach.

Obteve o doutorado na Universidade de Tübingen, na Alemanha, sob a supervisão de Jürgen Moltmann. Hoje, sua reputação o leva a ser frequentemente convidado para opinar em programas de rádio e televisão, como a CNN, a NPR e a Al Jazeera. No Brasil, a Mundo Cristão publicou, em 2009, sua obra O fim da memória.

O que o leitor brasileiro pode esperar da publicação?

Num momento em que a fé ganha cada vez mais relevância no debate público do Brasil, Uma fé pública vem para contribuir com argumentos bem embasados de um influente autor, que procura responder a questões fundamentais como: De que modo o cristianismo tem falhado no mundo de hoje? Qual deve ser a principal preocupação dos seguidores de Cristo na sociedade contemporânea? Como o cristão deve buscar pôr em prática sua visão de mundo em convivência com pessoas de perspectivas diferentes?

Volf apresenta uma valorosa alternativa tanto para a exclusão secular da religião da esfera pública como para todas as formas de totalitarismo religioso, sem atenuar as convicções cristãs, mas afirmando-as com veemência. É uma obra cuja leitura enriquecerá seus leitores e, com isso, poderá levar a um impacto positivo da fé em todos os âmbitos de nosso país.Você também vai gostar de ler!Igreja que dialoga: caminhos, posturas e dificuldadesConheça:Teologia da trincheiraConvulsão protestanteCristianismo descomplicado

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