Ler ou escutar alguém lendo em voz alta traz efeitos emocionais tranquilizadores, desperta a curiosidade, reforça conexões neuronais e serve como uma receita contra as telas
Ler em voz alta contribui significativamente para o desenvolvimento de habilidades humanas individuais e comunitárias, fortalece funções cognitivas e vínculos afetivos. O assunto tem atraído a atenção de pesquisadores, docentes e entusiastas de diferentes países. As descobertas são fascinantes.
Em Why you should read this out loud [Por que você deveria ler isso em voz alta], matéria publicada pela BBC, a articulista Sophie Hardach compartilha que, no mundo antigo, ler era atividade para fazer o outro ouvir, não uma prática costumeiramente silenciosa. Ela conta que, durante grande parte da história, a leitura era uma atividade bastante barulhenta.
“Em tabuletas de argila escritas no antigo Iraque e na Síria há cerca de 4.000 anos, as palavras comumente usadas para ‘ler’ significavam literalmente ‘gritar’ ou ‘ouvir’. ‘Estou lhe enviando uma mensagem muito urgente’, diz uma carta da época. ‘Ouça esta tabuleta’. Se apropriado, faça o rei ouvi-la.’ Apenas ocasionalmente uma técnica diferente foi mencionada: a de ‘olhar’ para a tábua (ou seja, lê-la silenciosamente)”, escreve.
Hardach compila alguns dados sobre os benefícios da leitura em voz alta, documentados por importantes centros de pesquisa. Entre eles:
- Fortalece a memória: Ler em voz alta ajuda o participante a recordar com mais facilidade os textos e as palavras lidos. Tal efeito na memória é particularmente forte entre as crianças, mas também acontece com os mais velhos (pesquisa de Colin MacLeod, psicólogo da Universidade de Waterloo, no Canadá).
- É uma excelente estratégia cognitiva: “Parece que ouvir ativamente uma história conduz a uma forma mais intensa e profunda de processar a informação”; e Ajuda em diagnósticos clínicos: Pessoas com Alzheimer precoce, por exemplo, são propensas a cometer determinados erros com mais frequência ao ler em voz alta (conforme pesquisadores da Universidade de Perugia, na Itália).
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- Oferece múltiplas funcionalidades. Ler em voz alta é uma atividade intuitiva que facilita a interpretação de receitas, manuais e textos complexos; é prática em entornos religiosos, para a leitura de orações; traz satisfação, comodidade e sentido de pertencimento, especialmente ao partilhar o tempo com outros (Sam Duncan, investigador da Universidade College de Londres, que realizou um estudo com mais de 500 pessoas para investigar como e quando liam em voz alta).
Um hábito para todas as idades
O portal La Vanguardia também abordou o tema por meio do artigo Por qué deberías leer más en voz alta (o pedir que te lean), publicado em 2019 com assinatura de Rocío Carmona. Ao recorrer a diferentes fontes especializadas, a articulista sugere que “relegar esta atividade à primeira infância é um erro. Os adolescentes e os adultos também podem se beneficiar dela”. Ela pontua que ler em voz alta estimula a aquisição da linguagem, o gosto pela leitura e a ampliação do vocabulário. Além disso, a atividade traz efeitos emocionais tranquilizadores, desperta a curiosidade, reforça conexões neuronais importantes e serve como uma receita contra as telas.
Rocío cita um trecho do livro The Enchanted Hour: The Miraculous Power of Reading Aloud in the Age of Distraction, Harper, 2019 [A Hora Encantada: O Poder Milagroso da Leitura em Voz Alta na Era da Distração], em que Meghan Cox Gurdon, autora e crítica literária, expõe os benefícios da leitura em voz alta que extrapolam o período da primeira infância:
“Adolescentes e adultos […] também se beneficiam intelectualmente, emocionalmente, literária e até espiritualmente. Para adultos exaustos de meia-idade cuja atenção está em mil lugares, reservar um tempo para ler em voz alta pode ser como aplicar uma loção calmante na alma. Para os mais velhos, seus efeitos podem ser consoladores e revigorantes, como tomar um tônico ou remédio restaurador.”
Para ler a matéria do portal La Vanguardia, clique aqui.
Para ler a matéria da BBC na íntegra, clique aqui.
Você sabia?
Curiosamente, há evidências de que os documentos bíblicos foram redigidos para serem lidos em voz alta, com frequência no culto público (Ne 8; Lc 4.16-20; 1Tm 4.13; Ap 1.3).
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