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Quais são os limites entre fé e ciência?

Fique por dentro do assunto ao ler a quarta parte da entrevista especial com Gustavo Assi, secretário executivo da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência – ABC²

Mundo Cristão: Quais são os limites entre fé e ciência?

Gustavo Assi: Ciência e fé são campos com propósitos diferentes, embora sejam revelações feitas pelo mesmo Deus. A revelação através do mundo natural é limitada àquilo que é tangível, observável, ao que podemos descobrir no mundo natural.

Portanto, a ciência opera somente no mundo natural. O cientista trata dos fenômenos e dos fatos no mundo tangível. Ele não pode tratar com nenhuma hipótese que não pertença ao mundo natural, que não seja verificável, reproduzível, falsificável, testável, mensurável, sistematizável ou modelável.

Enquanto empreendimento humano na esfera do mundo natural, a ciência tem limites. Ela, usando o seu método, tem todas as ferramentas e as condições de aprofundar-se cada vez mais nas descobertas e no entendimento do mundo natural.

Todavia, a ciência nunca conseguirá descobrir coisas do mundo sobrenatural, porque ela não tem acesso a essa realidade. O método científico não chega lá.

Por outro lado, a Bíblia trata conosco primariamente acerca de nossa fé, das verdades do mundo sobrenatural. A Bíblia, a revelação especial, veio justamente para dizer ao homem que existe um Deus Salvador. É ela que me leva a crer que Jesus Cristo é o Senhor enviado de Deus.

Portanto, quando diz que é pela fé que nós somos convencidos de que Deus criou o universo (Hb 11.3), podemos ficar bem tranquilos, pois não há nenhum perigo de sermos tentados pelo ateu. Porque o ateu vai dizer o seguinte: “Eu não preciso da Bíblia para saber que o universo existe. Basta olhar para as coisas ao meu redor”.

Ora, se eu toco ou meço uma pedra, se eu examino uma árvore, faço medições dos campos de forças, das leis cósmicas, das leis universais, eu tenho certeza de que o universo existe.

Mas não é isso o que a Bíblia está dizendo. Ela afirma que é pela fé que o ser humano sabe que foi Deus quem criou o universo. Assim, eu nunca vou conseguir chegar à conclusão de que foi o Deus da Bíblia, o Deus verdadeiro, que criou o universo somente investigando a natureza por meio do método científico.

Essa informação sai da revelação especial que está nas Escrituras. Eu só posso dizer que foi Deus quem criou o universo porque assim está escrito na Bíblia, pela fé, não porque os dados científicos me dizem.

Se eu pudesse chegar à conclusão de que Deus criou o universo baseado apenas nas informações do processo científico, eu não precisaria do Evangelho, porque o Evangelho é o convencimento de que Deus existe, de que Cristo é o Salvador.

Se eu pudesse chegar, através do empreendimento científico, à conclusão de que Deus, o Pai de Jesus Cristo, que é um com o Espírito, existe, eu não precisaria do Evangelho. Teria chegado a essa conclusão por méritos próprios analisando o mundo natural.

Mas isso não é Evangelho, pois a Bíblia diz que nós somos convencidos por causa de um dom que Deus nos dá, que é a fé, para que ninguém se glorie, para que não seja mérito de ninguém chegar a essa conclusão (Ef 2.8).

A ciência tem outro propósito. Ela tem o objetivo de enriquecer nossa fé, dando ao homem condições de entender como o mundo natural funciona. Portanto, nem a ciência pode fazer afirmações sobre a realidade sobrenatural, nem as Escrituras se propõem a fazer afirmações científicas sobre o mundo natural.

Existe aí um limite de interpretação e, portanto, um erro ao se tentar forçar a interpretação fora dos seus limites, seja pelo cientista ateu que quer provar pela ciência que Deus não existe, ou pelo crente que quer provar que o Deus da Bíblia existe através da ciência.

Esses são dois erros que estão na mesma categoria. Porque os dois, o ateu e o crente, estão querendo usar a ciência para tentar provar verdades sobre o mundo sobrenatural, um diz que Deus existe e outro que não. Mas, de fato, a ciência não tem acesso a essa informação.

Dizer que as Escrituras têm condições de revelar tudo sobre o mundo natural é um erro também.

A Bíblia tem condições de revelar tudo o que o ser humano precisa saber acerca do mundo sobrenatural, tudo o que Deus quis dizer sobre si mesmo, sobre nós e sobre o mundo sobrenatural, ou até mesmo, em alguma instância, sobre o nosso relacionamento com o mundo natural.

As Escrituras são completamente suficientes para revelar o que Deus quis revelar. Se nós tentássemos tirar informação científica da Bíblia hoje e Moisés tentasse tirar informação científica das Escrituras que ele recebeu há milênios atrás, certamente as conclusões seriam diferentes sobre o mesmo mundo natural.

Daí um exercício simples para provar que a Bíblia não pode revelar coisas que dependam da nossa compreensão científica moderna do mundo natural, senão ela não teria validade em algum outro momento da história: ou ela seria válida para Moisés, por causa da sua ciência da época, ou ela seria válida para nós hoje, porque temos mais conhecimento do mundo natural que Moisés.

E não pode ser assim, porque as Escrituras têm o propósito de revelar Deus como Criador e Senhor, fala do Pai, Filho e Espírito Santo, trata de verdades espirituais que valem para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas.  

Portanto, existe limite no empreendimento científico? Existe sim. A ciência é limitada ao mundo natural. Existe limite na interpretação ou no exercício de se fazer teologia? Existe limite naquilo que conseguimos descobrir por meio das Escrituras? Sim, o limite está no seu propósito.

Nós conseguimos descobrir aquilo que Deus quis revelar através das Escrituras e não mais do que isso. O fato de a Bíblia estar escrita em um contexto da existência humana no mundo natural, não quer dizer que ela esgota o conhecimento do homem sobre o mundo natural, mas quer dizer que ela esgota o que o homem precisa saber sobre o mundo sobrenatural que Deus quis revelar. •

Fique por dentro!

Na quinta parte da entrevista especial, Gustavo Assi aborda temas como racionalidade e fé e fala sobre os principais erros cometidos por cristãos e cientistas ao lidarem com a interação entre o que pertence à esfera sobrenatural e natural. Não perca!

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