Denis S. Timm, editor de Bíblias da MC, compartilha curiosidades sobre o legado das traduções bíblicas para as línguas modernas, em especial, o português
A língua que falamos está em constante mudança. Palavras ou expressões são incorporadas ao nosso vocabulário e uso, vindas muitas vezes de outros idiomas ou de palavras que ganham um novo sentido. Ao mesmo tempo, muitas palavras deixam de ser usadas no dia a dia, mas continuam à disposição nos livros e dicionários.
Esse dinamismo que marca a comunicação entre as pessoas faz com que a própria Bíblia precise de revisões de tempos em tempos. Sendo um texto traduzido de línguas desconhecidas da grande maioria das pessoas, os tradutores e revisores da Bíblia precisam estar atentos para que a mesma mensagem continue chegando às pessoas de hoje e transformando vidas.
Mas há um aspecto importante a ser destacado nesse relacionamento entre a Bíblia e a língua nacional. Especialmente na cultura ocidental, fortemente marcada pelo cristianismo, a Bíblia exerce grande influência sobre o idioma, tanto em sua formação como em seu vocabulário.
“A Bíblia exerce grande influência sobre o idioma, tanto em sua formação como em seu vocabulário.”
Denis S. Timm, editor de Bíblias
Por muito tempo, a Bíblia só existia em seus textos originais (escritos em hebraico, aramaico e grego). Depois, por séculos, o latim foi a língua mais usada na igreja, e a Bíblia foi traduzida para o latim. Quando a Bíblia começou a ser traduzida para os idiomas modernos, como o inglês, o espanhol, o alemão e também o nosso português, isso colaborou em muito para que cada uma dessas línguas passasse por um processo de sistematização e padronização. Um exemplo clássico foi a tradução da Bíblia feita para o alemão por Martinho Lutero. Sua tradução foi importante para unificar a língua alemã, cheia de dialetos, tanto que a tradução feita no início dos anos 1500 continua a ser utilizada ainda hoje.
E esse fenômeno continua acontecendo em nossos dias. Basta pensar na tradução da Bíblia para línguas indígenas. Não é raro o tradutor lidar com uma língua que é apenas falada, mas não escrita. Para levar adiante sua tarefa, é preciso criar toda a estrutura da língua, desde o alfabeto até a gramática. E quando a tradução bíblica finalmente está pronta, muitos anos ou décadas depois, o que se tem é uma língua estruturada, o que permite que seja ensinada a outros, preservando a cultura local e a própria língua.
Outro aspecto da influência que a Bíblia tem sobre nosso idioma é a variedade de palavras que vêm do texto bíblico e têm um significado especial no ambiente religioso cristão: batismo, salvação, fé, sacrifício, cruz, Bíblia. Essas palavras também são usadas fora do ambiente religioso, com um significado derivado do sentido bíblico. Dizemos que a vida é cheia de “sacrifícios”, que sofremos para carregar nossa “cruz”. E aquelas obras abrangentes sobre um tema são chamadas de “Bíblias”.
Também usamos muitas expressões no cotidiano cuja origem está no texto sagrado — e muitas vezes nem nos damos conta disso. Eis alguns exemplos: “olho por olho, dente por dente” (Êxodo 21.24), “bode expiatório” (Levítico 16.26), “colocar a casa em ordem” (Isaías 38.1), “pele e osso” (Jó 19.20) e até “um passarinho me contou” (Eclesiastes 10.20). São expressões que vêm dos tempos bíblicos e continuam em uso por nós. Você conhecia a origem dessas expressões? Conhece outras que tenham origem na Bíblia?