Em entrevista à MC, Valdir Steuernagel, organizador do livro “Espiritualidade no chão da vida”, fala da importância do lançamento e deixa uma mensagem aos leitores, especialmente àqueles que estão lidando com o sofrimento
Depois de Formação Espiritual, livro em que Valdir e Silêda Steuernagel, Osmar e Isabelle Ludovico, Ricardo Barbosa e Ziel Machado trazem um chamado a deixar o ativismo, a pressa e o consequente esfriamento das relações interpessoais e da fé, a Mundo Cristão lança Espiritualidade no chão da vida, obra que trabalha diferentes aspectos da experiência humana e temas como pessoalidade, comunidade, vocação e cidadania.
Escrito a várias mãos e também organizado por Steuernagel, o livro Espiritualidade no chão da vida conta com a participação de mais 40 autores, entre mentores e mentoreados do Projeto Grão de Mostarda (PGM), em reflexões sobre como a fé encarnada possibilita ao cristão relacionar-se com a complexidade da vida e suas demandas mais urgentes.
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Em entrevista à MC, Valdir Steuernagel fala da importância da obra para a igreja brasileira e para cada leitor e leitora, dá uma definição inspiradora acerca da espiritualidade cristã e deixa uma mensagem a quem está lidando com o sofrimento. Confira!
Mundo Cristão: Gostaríamos de iniciar a entrevista definindo o que é espiritualidade; no nosso caso, espiritualidade cristã. O que ela é?
Valdir Steuernagel: Espiritualidade é essa “coisa” que acha o caminho do coração e nos leva a respirar no ritmo da nossa humanidade. Uma humanidade que tem dentro dela a Imago Dei com a qual Deus nos presenteou.
A espiritualidade é, como diz Rubem Alves, a “saudade de Deus”. Uma saudade que vai sendo alimentada e saciada pelo eterno, em cada um dos estágios e encontros que ocorrem em nossa vida individual e comunitária.
A espiritualidade cristã encontra cor, sabor e direção à medida que se percebe andando com Jesus e seguindo Jesus, na contínua experiência de que é nisso que se constitui a vida abundante.
Espiritualidade no chão da vida. Conte-nos da proposta da obra e do que seria o “chão da vida”.
A espiritualidade sadia tem “cheiro e jeito” de Jesus, quem sempre encontramos no chão da vida – caminhando com as pessoas, conversando com elas, restaurando-as. Como seguidores de Jesus, somos encontrados por ele no chão de nossa vida, e é lá que somos vocacionados a viver nossa fé integrada no cotidiano, tornando-nos testemunhas que refletem o próprio Jesus.
O livro Espiritualidade no chão da vida retrata várias das experiências que marcam a caminhada da vida e como, em meio a elas, experimentamos a mão do cuidado e da graça de Deus.
De que forma o livro vem ao encontro de uma necessidade atual da igreja e dos cristãos brasileiros?
Uma das dimensões mais bonitas e importantes da fé cristã é que ela é integral e integradora. Ou seja, ela afeta todas as dimensões da nossa vida e nos torna pessoas mais inteiras e mais íntegras. A fé cristã nos torna pessoas mais humanas, mais cuidadosas e carinhosas para com os outros, a cada dia. É disso que o livro testemunha ao relatar vivências concretas, e é a isso que ele nos convida, alertando-nos quanto a uma fé que seja meramente cosmética, um adereço religioso, irrelevante em nossa sociedade.
“A fé cristã é integral e integradora. Ela afeta todas as dimensões da nossa vida e nos torna pessoas mais inteiras e mais íntegras.
Valdir Steuernagel
Quais temas são abordados?
O livro se propõe a abordar muitas daquelas dimensões que marcam nossa vida cotidiana. Por isso se fala da festa da vida e do luto da perda; das rupturas e da reconstrução de vínculos e relacionamentos; da vocação e sua crise num mercado consumidor; da agonia da natureza e do cuidado com o meio ambiente, para citar alguns exemplos.
A obra conta com a participação de mais de 40 autores, entre mentores e mentoreados. O que esse mosaico de vozes reflete e proporciona ao leitor?
Este mosaico de vozes se constitui em melodia comunitária. Os autores, em sua absoluta maioria, são mulheres e homens que integram uma jornada em direção espiritual na qual eles têm encontrado uns aos outros, além de se encontrar e reencontrar com uma experiência de vocação que promova cidadania e honre Deus. O livro é um convite para que a fé seja vivida assim: em companhia de vida, em submissão ao outro e em adoração a Deus.
Carlos Queiroz, pastor, teólogo, professor e conselheiro, escreve no prefácio do livro que Espiritualidade no chão da vida “percorre caminhos paradoxais: de dor e bálsamo, de morte em meio às lágrimas e consolação”. Como entender esses contrastes?
Esses contrastes, se poderia dizer, são tantos quantos são os contrastes da própria vida, seja individual, familiar ou comunitária. Quanto mais verdadeiros somos no reconhecimento das nossas rupturas, dores, bálsamos, encontros e desencontros, tanto mais experimentamos o quanto a fé cristã é cuidadora e cuidadosa e o quanto carecemos desta fé que nos leva à experiência da restauração e da esperança. Uma esperança que nasce depois do vendaval.
Muitos cristãos — inclusive inspirados por pregações e lideranças — relutam ao lidar com questões como perdas, sofrimento, depressão e lamento, consideradas experiências contrárias à “vitória”, “ao ser cabeça e não cauda”. O que Espiritualidade no chão da vida tem a dizer a quem pensa assim?
O que se quer dizer é que não é preciso esconder e negar nada e nenhuma experiência de vida. Todos sabemos, e as próprias Escrituras nos ensinam, que há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu e que cada um deles tem lugar no coração e nas mãos de Deus ( Ec 3.1-8). Há tempos de dor e há tempos de cura, e em cada um deles somos acolhidos e cuidados por Deus. Reconhecer e viver isso é o convite deste livro.
“Há tempos de dor e há tempos de cura, e em cada um deles somos acolhidos e cuidados por Deus.”
Valdir Steuernagel
O que os leitores podem esperar do lançamento?
Ao passo que fui recebendo os artigos que compõem a obra, fui sendo impactado pela transparência com a qual a vida era exposta, as experiências de dor e de graça sendo narradas e as expressões de compromisso vocacional tendo lugar. Então, uma profunda nota de agradecimento foi nascendo dentro de mim. Espero que cada leitor compartilhe desta mesma experiência, experiência de encontro, abraço e novos caminhos de graça.
Uma mensagem final aos leitores MC, especialmente àqueles que estão sofrendo, se desiludiram, se machucaram, estão lutando contra um vício ou algo que consideram maior — como o luto ou a depressão —, e se veem feridos e sem forças no “chão da vida”.
O meu primeiro gesto para com você que está em meio a um desses momentos difíceis é lhe dar um abraço e convidá-lo para um café. Um café num lugar onde ambos nos sintamos seguros e possamos falar dessas dores, chorar um pouco e orar juntos aquela oração na qual o coração bate mais forte porque experimenta o cuidado e o acolhimento restaurador de Deus. Juntos, então, vamos perceber que não estamos sozinhos e nem precisamos andar sozinhos pois, como ovelhas, nos sabemos cuidados pelo Bom Pastor.
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Saiba mais!
Valdir Steuernagel (org.) é pastor luterano, embaixador da Aliança Evangélica e da Visão Mundial e colunista da revista Ultimato. É casado com Silêda, com quem tem quatro filhos e sete netos, e com quem se dedica ao ministério da nutrição espiritual e vocação missional.
Projeto Grão de Mostarda: Por mais de 25 anos, o Projeto Grão de Mostarda (PGM) tem acompanhado a vida de centenas de jovens líderes em um programa de formação espiritual e de mentoria que busca gestar uma espiritualidade com a marca de Jesus. Uma espiritualidade simples, saudável e transparente e que abrace a vida por inteiro, em sua dimensão pessoal e comunitária.
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1 Comentário
Rui Fernando Santos Sobral
Muito bom